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Como plantar palma forrageira em sintropia (VIDEO + TEXTO)

Neste vídeo Ernst Götsch explica e demonstra a formação de um ninho para plantio de figo da índia (Opuntia ficus-indica). As explicações valem para qualquer uma das várias espécies de cactáceas que têm o formato achatado típico da palma forrageira.  

Os usos dessa planta são inúmeros:

Na Agricultura Sintrópica a palma é vista como uma espécie chave para lidar com características típicas de semiárido. Geralmente em consórcio com babosa, Aloe vera, mamona (Ricinus communis) e sisal (Agave sisalana), essas plantas formam uma cobertura vegetal capaz de continuar produzindo fotossíntese mesmo quando outras espécies já não suportariam mais o calor e a seca. O resultado do seu metabolismo, por sua vez, promove modificações sintrópicas no ambiente, criando justamente as condições adequadas para que outras espécies mais exigentes possam se estabelecer futuramente.

É curioso observar neste vídeo a escolha das espécies que vão funcionar como placenta para a palma. Alhos, cebolas e rabanetes servirão como uma primeira proteção para a palma recém-plantada. O pequeno aporte externo de esterco que foi dado beneficiará todos ao mesmo tempo, pois o crescimento de um estimula o crescimento do outro. Ao final, além da cobertura feita com capim seco disponível naquele lugar, foi também plantada em toda a volta a futura fonte de matéria orgânica para aquele ninho: ervilhaca, trigo ou cevada – não para serem colhidos, mas sim para serem podados e incorporados no ninho.

Essas foram as espécies escolhidas neste caso porque esse ninho foi feito em contexto mediterrânico durante o inverno. Mas elas poderiam, por exemplo, ser substituídas no semiárido brasileiro por um conjunto de sementes composto por feijão, milho, andu (Cajanus cajan), fava (Vicia faba) e também as frutas como caju (Anacardium occidentale), umbu (Spondias tuberosa), abacaxi (Ananas comosus), araticum (Annona montana), mamão (Carica papaya), etc. Para o fornecimento de matéria orgânica teríamos aroeira (Schinus terebinthifolius), gliricídia (Gliricidia sepium), sabiá (Mimosa caesalpiniaefoliaHá também experiências no semiárido brasileiro de plantio de palma como tutor vivo para o maracujá.

O consórcio de palma com maracujá foi representado na telenovela “Velho Chico” em cena inspirada em experiências reais de agricultura sintrópica.

Ou seja, a lógica é a mesma. São escolhidas espécies com crescimento rápido para colheita inicial e para proteção inicial das sementes de árvores, além de espécies que funcionem como nossa fábrica de adubo, com bom crescimento e que reagem bem às podas. Considerando essas características e funções, a composição do ninho pode ser traduzida e adaptada para qualquer outra condição específica local.

Sem exagero podemos dizer que a palma é uma espécie ao mesmo tempo guerreira e generosa. Mesmo com pouca água e em solos considerados pobres ela é capaz de produzir matéria orgânica que ajuda a criar outras espécies e ainda armazena água e oferece seus frutos para animais de porte grande. Só que, como muitas outras espécies também guerreiras, ela por vezes é interpretada como invasora ou infestante. Na Austrália e no sul da África há muito essa discussão sobre a introdução da palma pelos primeiros exploradores. Sob essa ótica da competição, a falta de parasitas e de concorrentes naturais de seu local de origem promoveriam a propagação descontrolada da espécie.

Por outro lado, através dos óculos da Agricultura Sintrópica o que vemos são áreas tão degradadas pela ação inconveniente do ser humano que hoje apenas espécies como a palma são capazes de prosperar. E o trabalho que elas realizam por meio de seu metabolismo é o de modificar e incrementar aquelas condições, no sentido sintrópico, como todas as outras espécies o fazem. O papel do agricultor sintrópico, nesse caso, seria o de potencializar esse trabalho que ela já está fazendo, incluindo as espécies que nos interessam e trabalhando para que todas prosperem.

Dayana Andrade

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