Uma pergunta que comumente nos fazem é “qual a diferença entre agricultura sintrópica e agricultura orgânica?”. Já produzimos alguns materiais que abordam o tema - e que, inclusive, procuram posicionar a agricultura sintrópica também diante das outras nomenclaturas que compõem o universo das agriculturas sustentáveis e regenerativas – mas resolvemos pedir para o próprio Ernst Götsch dar a sua resposta, e é isso o que você confere agora!
Agricultura Orgânica e Sintrópica são duas irmãs, partindo da mesma ideia, porém, a abordagem para a solução dos problemas que encontram nos seus trajetos as levou para diferentes esferas. A Agricultura Orgânica visa substituir a adubação química (usual na agricultura convencional) por uma adubação primordialmente orgânica (compostos feitos de restos orgânicos, adubação verde, esterco, caldos etc.). Na Agricultura Sintrópica trabalha-se o desenho dos arranjos com diferentes espécies, passando pela implantação e, depois, continuando em cada passo na condução das nossas plantações de modo que elas produzam o seu próprio adubo. Para essa finalidade, planta-se numa alta densidade árvores, gramíneas e ervas que têm em comum a característica de fácil e vigoroso rebrote após poda. E maneja-as de acordo. O efeito daquela poda, periodicamente feita, resulta - além da condução da oferta de luz para as nossas culturas - em matéria orgânica em grandes quantidades que, colocada sobre o solo, cria vida próspera nele e, indiretamente, adubo para as nossas plantas.
Um benefício adicional, do tamanho dos primeiros dois - luz e adubo - se não maior, é o efeito do rejuvenescimento do sistema todo que acontece após a poda: informação de novo crescimento, vigor e saúde para o sistema inteiro, induzido pelo rebrote dos nossos aliados.
Isto nos leva para a próxima diferença entre a Agricultura Orgânica e a nossa Sintrópica: na agricultura orgânica é previsto um controle fitossanitário, ou seja, o combate às doenças e pragas. Para isto há normas que definem o que é permitido e o que não é permitido, e disponibilizam para o uso todo um arsenal de preparados, caldos, misturas de minerais para fortalecer as plantas, ou para matar ou afastar pragas e doenças, armadilhas para captar insetos não queridos, criação e depois liberação dirigida de predadores etc. etc. No fundo, são ferramentas desenvolvidas e usadas como consequência da divisão, da separação entre o bem e o mal.
No nosso caso, na Agricultura Sintrópica, trabalha-se para obter vigor e saúde próspera do sistema todo, e tratam-se aquelas consideradas pragas ou causadores de doenças como indicadores de pontos fracos nas nossas plantações, causados por erros cometidos por nós mesmos. Erros cometidos no desenho ou na condução dos nossos agroecossistemas e, olhando assim para eles, são aliados indiretos, integrantes do sistema imunológica do macro-organismo vida do planeta Terra (do qual não escapamos de ser parte).
Olhando por essa perspectiva, não existe bem e mal. Existe, sim, função. Aqueles colegas, considerados pragas, podem indiretamente nos dar pistas de como interagir de forma mais orgânica no sentido do macro-organismo, para que não haja a necessidade de uma diligência de urgência pela parte dos bombeiros do sistema. Por isso, mais uma vez, são aliados, integrantes do sistema imunológico, igualmente aos glóbulos brancos no nosso corpo que entram em ação e se proliferam quando os processos de vida nele (do macro-organismo) saem da dada matriz.
Ou, escute o que Êsopos (700 a.C.) disse, ou o que ele deixou Cronos falar para o homem que, segundo ele, tinha criado os seres neste planeta, e assim também o homem. “Homem, te ponho neste lugar, seja ele o seu paraíso! Viva bem! ocupe-o e multiplique-se! Seja criativo! Podes fazer o que quiseres. Te encante! Tem uma condição só, um limite: as leis em que o macro-organismo, cujo parte tu és, gira, funciona, dadas são (pré-estabelecidas). Nem a nós, deuses do Olimpo, cabe fazer as nossas próprias leis!“. O homem viveu feliz. Um dia, no entanto, ele começou a pensar “e se nós fizéssemos as nossas próprias leis? Mais poderosos que os deuses do Olimpo ficaríamos.” E, fazendo isto, (as suas próprias leis), eles entraram em conflito com aqueles deuses (do Olimpo) e começaram a fazer guerra contra eles.
Observando isto, Cronos começou a coçar os cabelos na sua cabeça, pensando: “o que vou fazer com esta minha cria? Vou matá-los!” - decidiu, e desceu com o seu machado no seu ombro do Olimpo. Quando, no entanto, chegou nos homens, vendo eles, mudou de ideia: “Homem” - exclamou ele - “como castigo para a sua desobediência vou rachar-lhes”. Pegou o seu machado e o fez. “E isto” - disse ele – “tem como consequência que tentarão se reencontrar com a sua segunda metade a sua vida inteira, e não a encontrarão. E mortal será isto para a sua espécie”.
E com isto dadas são as leis de Êsopos, e o fato de ter aceitado isto, e o agir de acordo, chega-se a fechar o círculo, e nós voltaremos para o inicio da minha resposta para sua pergunta: a abordagem para a solução dos problemas que encontramos acabou por levar a agricultura sintrópica e orgânica para esferas diferentes.