Desde que conhecemos o trabalho do Ernst, nosso compromisso de comunicar essa forma inovadora de cultivo só tem aumentado. Graças a muitos parceiros e a um público cada vez maior (e, acima de tudo, aos nossos queridos seguidores e apoiadores da área de assinantes) pudemos dedicar mais tempo para produzir este conteúdo. Aqui gostaríamos de compartilhar um pouco mais sobre a enriquecedora jornada de mais de uma década que nos trouxe até aqui. No primeiro post desta série, contamos como tudo começou e como foram as primeiras gravações. Neste segundo post, relatamos alguns episódios que, simplesmente, mudaram a nossa vida.
De 2008 a 2015, tive o privilégio de documentar a implantação de um projeto pioneiro de cultivo de dendê em sistemas agroflorestais orgânicos, na Amazônia. A empreitada foi uma iniciativa do departamento de inovação da empresa de cosméticos Natura, com apoio técnico e científico da Embrapa, universidades e financiamento da Finep. O desenho original das áreas de plantio contou com a validação de Ernst Götsch juntamente com um convite para definir o manejo dos primeiros anos do projeto. Foram 6 semanas ao longo de três anos que estivemos juntos no Pará, seja para documentar a evolução das áreas e as recomendações de manejo, seja em atividades paralelas como capacitações e visitas técnicas. Os encontros sucessivos resultaram não apenas no conforto crescente de Ernst diante da câmera, mas também na conclusão de que a linguagem audiovisual era uma tecnologia adequada para o registro daquela forma de pensar e fazer agricultura.
Em 2011 nasceu o projeto Agenda Götsch, uma parceria minha com a jornalista e companheira Dayana Andrade e com o próprio Ernst. O objetivo era registrar em vídeos e textos a recuperação de uma área degradada em sua fazenda na Bahia, que seria implantada e manejada exclusivamente por ele. Desde o início do projeto tínhamos o desejo de democratizar suas técnicas e, para isso, optamos por suprimir as motivações filosóficas da narrativa mantendo o foco na aplicação imediata e prática daquele modo de cultivo. Rapidamente concluímos que essas duas dimensões eram inseparáveis, já que a tomada de decisão é resultado de um exercício dialético constante com os elementos do sistema. A riqueza investigativa daquele modelo estava na manifestação prática coerente com seus princípios teóricos. Para nós, jornalistas, tratava-se de um achado raro. Entre 2011 e 2014, viajamos 12 vezes para a Bahia para coletar imagens e entrevistas, as quais resultaram na publicação de um website, 13 vídeos e um artigo em congresso científico com a descrição da área implantada.
Em 2013, Ernst firmou parceria com a Fazenda da Toca, uma das principais empresas no mercado de alimentos orgânicos brasileiro, onde dedicaria parte dos próximos dois anos ao desenvolvimento de modelos de agricultura sintrópica para grande escala. O resultado das áreas experimentais chamou a atenção da mídia e da comunidade científica até que, no final de 2015, com apoio da própria Fazenda da Toca, reunimos em vídeo um resumo de modelos de pequena, média e grande escala de Agricultura Sintrópica. Esse vídeo foi apresentado durante os eventos paralelos da COP 21, que aconteceu em Paris em dezembro daquele ano.
O filme - Life in Syntropy - teve uma repercussão surpreendente para nossas expectativas, alcançou mais de 7 milhões de visualizações em redes sociais, foi traduzido para 6 idiomas, premiado em festivais internacionais, ganhou salas de aula de escolas, universidades e até apresentação na Capela Sistina no Vaticano. Sem contar com a criativa versão em rap feita por um talentoso artista.
Prêmios em Festivais
• Excellence Award International Film Festival Canada • Best Documentary May Day Sustainability Short Film Festival • Finalist CreActive International Open Film Festival • Semi-finalist G2 Green Earth Film Festival • Official Selection Life Sciences Film Festival Prague • Official Selection Ekofilm Festival • Official Selection Marda Loop Film Fest • Official Selection The Environmental Film Festival at Yale University
O inesperado alcance do vídeo trouxe outras consequências. Em março de 2016, fomos procurados pelos autores da novela “Velho Chico” – Edmara Barbosa e Bruno Luperi - exibida pela TV Globo entre julho e setembro do mesmo ano. Um dos objetivos da trama era fomentar o debate ambiental sobre o rio São Francisco, e propor alternativas para os polêmicos modelos de desenvolvimento da região. Ernst, Dayana e eu trabalhamos em parceria com os roteiristas para compor as 189 cenas que trataram do tema. Por meio da emoção, conseguimos conversar com um público novo e imenso sobre questões sensíveis como agrotóxicos, manejo ecológico do solo e convivência com o semi-árido. O feedback foi inacreditável, incluindo relatórios de extensionistas rurais que mencionaram perceber uma maior abertura dos agricultores às propostas ecológicas depois da novela.
Como desdobramento, participamos de dois eventos na Câmara dos Deputados em Brasília. Um deles foi a audiência pública “Desafios da Agricultura: Produtividade e/ou Sustentabilidade?” e um Seminário organizado pela Comissão do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável em conjunto com a Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural, sob o título “Novos métodos para a exploração do Sistema Agroflorestal Sucessional: Produção e Recuperação – Nova agenda – Oportunidades e desafios”. Foi quando as subsequentes reportagens realizadas por programas de TV, revistas e jornais especializados despertaram a curiosidade de muitos grupos, dentro e fora do universo rural, aumentando exponencialmente os pedidos por informações.
O “projeto da sintropia” retratado na novela gerou muita discussão, não só entre os esperados opositores convencionais, como também entre os próprios grupos que defendem agriculturas mais sustentáveis. Foi quando percebemos que as fronteiras dos conceitos que fazem parte desse universo ainda são bastante indefinidas e confusas. A grande exposição dessa ideia em um período de tempo tão curto nos convocou a dar respostas e a posicionar a Agricultura Sintrópica entre o mar de conceitos que habitam o universo das agriculturas sustentáveis.
Entre elogios e críticas, a certeza era que nos anos de 2015-17, fomos tragados para debates técnicos e conceituais, obrigados a buscar semelhanças e diferenças entre os mais diversos tipos de agricultura e a nos antecipar a possíveis inconsistências conceituais.
Durante esses anos, participei ativamente desse processo. Como um dos resultados, defendi a dissertação de mestrado que inspirou esse texto,“A Agricultura Sintrópica de Ernst Götsch: história, fundamentos e seu nicho no universo da Agricultura Sustentável”, e a Dayana está na fase final de seu doutorado, dando prosseguimento ao aprofundamento teórico. Além disso, temos previsão de lançar um livro junto com Ernst Götsch no primeiro semestre de 2019.
Esperamos voltar em breve para adicionar mais capítulos à nossa história. Uma história que todos os anos inspira mais agricultores e consumidores a agir transformando o campo e a cidade.
Inspirador! Gratidão 🙂
Gratidão é o que posso dizer pra vos.
Espero com muita vontade ler o livro em 2019. Enquanto isso sacio-me por aqui.
Edita logo esse livro sei que será muito importante ansioso