Na agricultura praticada por Ernst Götsch cova passa a ser NINHO, sementes passam a ser GENES, capina passa a ser COLHEITA, competição dá lugar à COOPERAÇÃO e pragas passam a ser "AGENTES OTIMIZADORES DE PROCESSOS DE VIDA".
Dito dessa forma pode parecer apenas uma chamada provocativa, mas é difícil resistir à curiosidade de colocar esses conceitos à prova, de avaliar até que ponto eles fazem sentido ou não. O peculiar (e já clássico) vocabulário de Ernst Götsch apresenta coerência de forma, função, idéia e comportamento. Vem com a gente conhecer as histórias por trás dos conceitos!
O caso da Cova e do Ninho
As vezes chama de ninho, as vezes chama de berço, mas nunca cova! Ernst Götsch se recusa a dizer que planta em covas.
Covas são preparações para a morte. Ninhos, para a vida - E. Götsch
Mas não se trata apenas de uma troca de nomes. Estamos falando de uma mudança de técnica, de princípios e, em última instância, de olhar. A formação de um ninho na Agricultura Sintrópica pressupõe o uso da matéria orgânica presente no local que, ao invés de ser queimada, é roçada e picada. Todo esse recurso é organizado em unidades côncavas, no centro das quais será plantado um conjunto de sementes. Diferentemente do formato convexo que promove o escoamento da água para longe, o formato côncavo do ninho contribui mecanicamente para aumentar o aproveitamento da água, garantindo uma umidade mais constante e a temperatura superficial mais adequada às melhores condições de vida e de trabalho para os microorganismos relacionados com a fertilidade do solo.
A elevação da temperatura do solo é mortal para a maioria dos animais do solo, uma vez que somente estão recobertos por finíssima película, que não é capaz de protegê-los contra a seca. Toda a fauna edáfica depende de um certo grau de umidade, de modo que qualquer temperatura que resseca a superfície do solo a prejudica" Ana Primavesi
(*PRIMAVESI, Ana. Manejo Ecológico do Solo: a agricultura em regiões tropicais. São Paulo: Nobel, 2002. p.154)
Para a organização da matéria orgânica também é preciso obedecer a uma rigorosa sequência. Junto ao solo ficam as madeiras, não enterradas, mas em posição que garanta a maior superfície de contato com a terra. Depois são dispostas as folhas e os galhos picados, de modo a manter o solo totalmente coberto. Essa organização garante as condições sob as quais há a formação de húmus, ou seja, terra boa!
Vale a pena pensar também que os conceitos nos conduzem a percepções que podem moldar nossa forma de lidar com algumas situações. Por exemplo: soa mais problemático colocar veneno em um berço do que em uma cova, não é mesmo? É entre significados e significantes que criamos nosso imaginário coletivo do que seria “normal” fazer. Se, além das vantagens físicas e biológicas, a formação de berços de plantio puder trazer a reboque o capricho, o cuidado e o esmero de um ninho, parece que só temos a ganhar!